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Colesterol – Tudo o que precisa de saber

ligia mendes

Lígia Mendes - Cardiologista

Publicado no dia 12 de junho de 2024

O que é o Colesterol

O colesterol é uma gordura essencial para o funcionamento do corpo humano. É utilizado na formação de novas células, integrando a estrutura da membrana celular e desempenhando uma função protetora. Adicionalmente, é utilizado para a síntese de diversas hormonas, como por exemplo das glândulas suprarrenais e sexuais. O colesterol é produzido principalmente pelo fígado, mas também é obtido através da alimentação.

Como é transportado e utilizado o colesterol no nosso corpo?

O metabolismo do colesterol envolve várias etapas. Primeiro, o colesterol como é uma gordura que não se mistura com a água, é transportado no sangue por lipoproteínas. Existem as lipoproteínas de baixa densidade (LDL), que transportam o colesterol a partir do fígado para os tecidos, e as de alta densidade (HDL), que fazem o caminho inverso e transportam o colesterol dos tecidos para o fígado.

imagem colesterol

O LDL é frequentemente chamado de “mau” colesterol, porque pode entrar dentro das paredes das artérias, levando à formação de placas e aumentando o risco de doenças cardiovasculares. Por outro lado, o HDL é conhecido como “bom” colesterol, porque não entra nas paredes das células, não forma placas de ateroma. O HDL colesterol capta colesterol dos tecidos, e também das outras lipoproteínas como a LDL, para o transportar de volta para o fígado.

A recolha das moléculas de LDL colesterol da circulação sanguínea é realizada através de um processo chamado endocitose mediada por um recetor. As células que precisam de colesterol, como as células do fígado, dos tecidos periféricos e das células produtoras de hormonas, possuem recetores na sua superfície que reconhecem e se ligam especificamente às lipoproteínas de baixa densidade (LDL) que transportam o colesterol. Após a ligação dos recetores de LDL, ocorre a endocitose, um processo em que a membrana celular se dobra e forma uma vesícula contendo as moléculas de LDL ligadas aos seus recetores, que depois são libertadas dentro das células para serem utilizados como matéria-prima para a produção de múltiplos produtos e subprodutos.

Qual é o problema de ter LDL colesterol elevado em circulação?

Quando existe muito colesterol em circulação sob a forma de LDL-colesterol, este pode acumular-se dentro das paredes dos vasos e formar placas de aterosclerose, que vão aumentando de tamanho ao longo do tempo podendo provocar obstrução completa do vaso e desencadear um evento isquémico (enfarte agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral ou gangrena de um membro). A formação de placas de aterosclerose não depende só da abundância do LDL colesterol, mas também de outros fatores de risco, como a hipertensão, a inflamação, a diabetes e tabagismo que promovem a lesão das paredes dos vasos. No entanto, se não existir LDL colesterol, mesmo existindo lesão, as placas não crescem em tamanho e reduz-se o risco de ocorrer obstrução completa.

Como saber se tenho o colesterol elevado?

Os níveis de colesterol podem ser determinados com uma simples análise ao sangue. No entanto, é muito importante determinar não apenas o colesterol total, mas também os níveis de LDL. As análises realizadas através de picada do dedo, que avaliam apenas o colesterol total podem não ser suficientes.

Que colesterol LDL devo ter para me manter saudável?

As recomendações indicam que indivíduos de baixo risco, tais como jovens, sem doenças e/ou fatores de risco associados (diabetes, tabagismo, hipertensão), devem ter LDL -Colesterol abaixo 100 mg/dL.

No caso de existir doença prévia, nomeadamente enfarte do miocárdio, acidente vascular cerebral, entre outras, o LDL-Colesterol deve ser inferior a 55 mg/dL.

Importa referir que, com base em vários estudos, os valores de LDL-Colesterol, devem ser os mais baixos possíveis, de forma a evitar o aparecimento e progressão da aterosclerose. Valores tão baixos como 70mg/dL podem associar-se a um risco aumentado em algumas pessoas.

Como consigo reduzir o colesterol?

A primeira medida e transversal a todos nós, é a adoção de estilos de vida saudáveis. Importa recorrer a uma alimentação rica em fibras, cumprindo por exemplo as recomendações da dieta mediterrânica. Adicionalmente, é fundamental implementar a prática de exercício físico regular, cumprindo com as recomendações dos 150 minutos de exercício moderado ou 75 minutos de exercício vigoroso por semana. Infelizmente estas medidas, que têm um valor inquestionável para a promoção da saúde, em média só reduzem 10% do LDL- colesterol.

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Porque é que o exercício físico e a alimentação não conseguem reduzir o colesterol mais do que 10%?

Porque o fígado está programado para sintetizar determinada quantidade de colesterol e consegue fazê-lo quer a partir das gorduras, glicose ou proteínas, ou seja, independentemente da alimentação, é possível continuar a sintetizar colesterol.

Então qual a forma mais eficaz de reduzir o LDL-colesterol em circulação?

Existem duas formas de baixar significativamente o colesterol: ou reduzimos a síntese ou aumentamos a sua internalização e degradação, e ambas apenas ocorrem com terapêutica medicamentosa. As famosas Estatinas diminuem a síntese no fígado e também aumentam a captação hepática do LDL-colesterol. As Estatinas mais potentes podem reduzir os níveis de colesterol até 50%. Existem medicamentos que associados às Estatinas ainda reduzem mais os níveis de colesterol como é o caso da Ezetimiba, que reduz absorção do colesterol intestinal e aumenta a captação hepática do LDL colesterol.

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E se o meu colesterol baixar demasiado com o tratamento? Valores muito baixos de colesterol podem ser prejudiciais?

A evidência científica mais recente exclui a hipótese de colesterol muito baixo ser prejudicial. Por exemplo, a média de LDL-colesterol no cordão umbilical é de 36 ± 6 mg/dL aumentando para 50 ± 19 mg/dL ao fim de 4 dias. Estudos genéticos, também têm demonstrado a segurança de níveis muito baixos de LDL-colesterol. Algumas mutações genéticas estão associadas à redução da síntese de colesterol e levam a níveis muito baixos de LDL-Colesterol durante toda a vida. Estes doentes não desenvolvem doença nas artérias coronárias.

Outras preocupações, tais como a falta de vitaminas e de ácidos biliares, foram excluídas. Vários estudos confirmaram que níveis baixos de LDL-Colesterol não estão associados a níveis mais baixos de vitamina D ou vitamina E.

Também a preocupação de que a redução do LDL-Colesterol com estatinas aumentaria o risco de acidente vascular cerebral hemorrágico foi abordada em inúmeros ensaios clínicos, não tendo sido confirmada.

Finalmente, em relação à função cognitiva, a hipótese de que o LDL-Colesterol baixo causa declínio cognitivo foi investigada prospectivamente nalguns estudos. Efetivamente os testes cognitivos não revelaram alterações e o risco de demência não aumentou, mesmo em doentes com LDL-Colesterol <25mg/dL.

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