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Mergulho e coração: o que é preciso saber?

jose ferreira

José Ferreira - Cardiologista

Publicado no dia 3 de julho de 2024

No mergulho o coração tem de estar apto para os desafios e só uma avaliação médica pode confirmar que está tudo em ordem.

O mergulho recreativo é uma atividade fascinante que permite explorar o mundo subaquático, descobrir a vida marinha e desfrutar de paisagens submersas incríveis. É um desporto que oferece uma combinação única de aventura, tranquilidade e exercício físico.

É também um desporto seguro, desde que as suas regras sejam respeitadas. E estas incluem o mergulhador estar apto fisicamente para os desafios que lhe são colocados, nomeadamente:
• O aumento de pressão resultante da imersão na água;
• O frio;
• As correntes fortes e nem sempre favoráveis.

Durante um mergulho, é principalmente o sistema cardiovascular que é posto à prova.

Por isso, não é surpreendente que cerca de 30% das mortes relacionadas com este desporto recreativo se devam a eventos cardiovasculares.

É fundamental avaliar a saúde cardiovascular antes de iniciar a prática de mergulho e posteriormente, de forma regular. Mesmo que o mergulho seja esporádico.

Sou saudável, devo ser avaliado em consulta médica antes de fazer mergulho?

Mesmo quando não há doenças conhecidas é muito importante avaliar se a capacidade física é adequada para realizar mergulho e excluir algum possível problema cardíaco que ainda não se tenha manifestado com sintomas. Assim, uma avaliação médica é sempre recomendável.

• Regra geral, quem tem mais de 45 anos e fatores de risco para doença cardiovascular, tais como hipertensão arterial, diabetes, colesterol elevado, obesidade e for fumador, deve ser avaliado por um médico antes de começar a mergulhar.

Em alguns casos poderá ser necessário fazer exames, de forma a despistar doença das artérias coronárias, entre outras. A avaliação poderá assim incluir, além da consulta, exames como eletrocardiograma, ecocardiograma, prova de esforço e eventualmente uma angiografia por tomografia computorizada (angio-TAC) das artérias coronárias.

• Em qualquer idade, se tiver sido diagnosticada alguma doença cardíaca é imprescindível fazer uma avaliação prévia ao mergulho.

mergulho e coracao

Há doenças cardíacas que podem contraindicar o mergulho?

Sim!
O mergulho é uma atividade exigente para o sistema cardiovascular.

A pressão arterial e a frequência cardíaca aumentam durante o mergulho, os níveis de oxigénio no sangue oscilam e, por estes motivos, algumas doenças cardíacas desqualificam um potencial mergulhador para a prática da atividade. São alguns exemplos:
• Doença das artérias coronárias não tratada, incluindo a angina de peito e a história prévia de enfarte agudo do miocárdio;
• Miocardiopatias;
• Insuficiência cardíaca;
• Doenças que aumentem o risco de arritmias e que possam causar perda de consciência no ambiente subaquático;
• Cardiopatias congénitas;
• Doenças valvulares graves.

Por outro lado, mergulhadores que tenham alguns sintomas, em particular os que limitam a capacidade física, devem ser avaliados em detalhe, nomeadamente: • Incapacidade de fazer esforços moderados, por exemplo subir 2-3 lanços de escadas;
• Dor no peito associada ao esforço, falta de ar, palpitações ou síncope (perda de conhecimento);
• História de sopro cardíaco;
• Hipertensão arterial não controlada;
• Antecedentes familiares de morte prematura (súbita / inexplicada ou cardíaca).
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Tenho problemas cardíacos e já fiz mergulho sem ter acontecido nada, posso continuar?

Depende!
A resposta a esta pergunta requer seguramente uma avaliação em consulta de cardiologia e/ou por um médico especialista em medicina subaquática. O facto de ter problemas cardíacos e não ter acontecido nada a fazer mergulho não é sinónimo de não ter risco ou de que continue a não acontecer nada.

• Algumas doenças cardíacas contraindicam em absoluto a prática de mergulho, devido ao risco de ocorrer um evento agudo, como é o caso de uma paragem cardíaca em ambiente subaquático, que seguramente leva à morte.

• Adicionalmente, algumas doenças cardíacas aumentam o risco de embolia gasosa e doença descompressiva, que são complicações do mergulho.

Por esse motivo é preciso excluir uma lista exaustiva de doenças antes de concluir se pode ou não continuar.

Quando se trata de fatores de risco cardiovascular, como hipertensão arterial e diabetes, não há uma contraindicação absoluta para o mergulho, mas é fundamental que o médico verifique se estão controlados e exclua doença cardíaca, habitualmente com recurso a alguns exames de diagnóstico.

Devo excluir que tenho um foramen ovale patente (FOP) antes de mergulhar?

O foramen ovale patente é uma pequena comunicação entre as aurículas que está presente em cerca de 25% das pessoas, a maioria das quais não tem qualquer sintoma.

No entanto, a presença do foramen ovale patente aumenta o risco de embolia gasosa.

Assim:
• A identificação de um FOP num mergulhador que tenha tido uma complicação de mergulho, obriga necessariamente ao seu tratamento e encerramento;
• O conhecimento da presença de um FOP num mergulhador que nunca tenha tido uma complicação obrigada a uma avaliação sobre o risco / benefício de prosseguir com o desporto, em conjunto com um cardiologista e/ou médico especialista em medicina subaquática.
• Nos restantes mergulhadores, a pesquisa ativa do FOP não está recomendada, em particular se não existirem fatores de risco; no entanto, a realização de um ecocardiograma poderá esclarecer esta dúvida.

Lembre-se sempre:

Apesar de fascinante, o mergulho é uma atividade exigente que requer uma avaliação cuidadosa do sistema cardiovascular.

A avaliação por médicos especializados em medicina subaquática e por um cardiologista quando existe doença cardiovascular, é essencial para garantir a segurança na prática do mergulho.

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