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Smartwatches: Qual o melhor relógio para detetar arritmias?

Artigo de José Ferreira Santos - Cardiologista
07 ago 2023

Os relógios inteligentes, no inglês smartwatches, estão cada vez mais presentes no nosso dia a dia. Atualmente, uma em cada 3 pessoas nos EUA usa um destes dispositivos e em Portugal a sua utilização é também crescente! Em 2022 estima-se que existiam cerca de 1,1 mil milhões de dispositivos em utilização na população mundial.

Através de vários sensores, os smartwatches permitem monitorizar vários parâmetros de saúde, incluindo frequência cardíaca, saturação de oxigénio, padrões de sono e níveis de atividade física, entre outros.

No que concerne diretamente ao coração, além da frequência cardíaca, vários relógios inteligentes permitem detetar arritmias, nomeadamente fibrilhação auricular, e têm recebido aprovação das entidades reguladorasFDA (Food and Drug Administration) e CE (Conformité Européenne) para o efeito.

  • Os smartwatches que detetam arritmias utilizam as seguintes tecnologias: 

    • Fotopletismografia 

    Tecnologia que permite identificar alterações na absorção de luz pelos tecidos e que indiretamente deteta variações no volume sanguíneo dos capilares sanguíneos.  Estas variações são usadas para calcular a frequência cardíaca e a regularidade do ritmo cardíaco 

    • Sensores de eletrocardiograma 

    Através de elétrodos em contacto com a pele, os sensores detetam a atividade elétrica cardíaca e, à semelhança de um eletrocardiograma, podem registar uma tira de ritmo; contrariamente ao eletrocardiograma convencional, esta tira de ritmo apenas mostra uma derivação e tem uma interpretação mais limitada 

    • Algoritmos de inteligência artificial 

    Que integram as anteriores tecnologias, com os sensores de movimento e outros parâmetros medidos pelo relógio e permitem aumentar a acuidade para identificar arritmias cardíacas 

A utilização de smartwatches que podem apoiar no diagnóstico de arritmias, nomeadamente fibrilhação auricular, é uma ferramenta promissora e que não deve ser descurada pelos médicos em geral e pelos indivíduos em particular.

Se o seu smartwatch indicar que tem fibrilhação auricular, deve ou não acreditar?

Para responder a essa questão, investigadores de um Hospital na Suíça compararam o desempenho de smartwatches com um eletrocardiograma tradicional para o diagnóstico de fibrilhação auricular. Os autores do BASEL Wearable Study avaliaram 201 doentes, com idade média de 66 anos, dos quais 31% tinham fibrilhação auricular. 

Todos os doentes realizaram eletrocardiograma convencional, de 12 derivações, interpretado por um médico. Adicionalmente, todos os doentes usaram os seguintes dispositivos, para registar um traçado de eletrocardiograma e detetar a presença de fibrilhação auricular, com recurso aos algoritmos automáticos presentes em cada um deles: 

    • Apple Watch 6 
    • Samsung Galaxy Watch 3 
    • Withings Scanwatch 
    • Fitbit Sense 
    • AliveCor KardiaMobile 

 

A performance de cada um dos dispositivos para detetar fibrilhação auricular  foi comparada com o eletrocardiograma convencional.

Principais conclusões do estudo:

    • A sensibilidade – probabilidade de detetar fibrilhação auricular quando esta estava presente – variou entre 58% (no Withings Scanwatch) e 85% (no Apple Watch 6 Samsung Galaxy Watch 3). 
    • A especificidade – probabilidade de a fibrilhação auricular detetada corresponder na verdade a esta arritmia – variou entre 69% (no AliveCor KardiaMobile) e 79% (no Fitbit Sense). 
    • Ocorreram, em média, 20% de traçados inconclusivos, isto é, os algoritmos automáticos dos dispositivos não conseguiram interpretar.
    • Quando excluídos estes traçados inconclusivos, a sensibilidade e especificidade dos dispositivos aumentou para mais de 90% em todos eles, com 92% dos traçados interpretáveis classificados corretamente .

Além destes resultados muito interessantes, os traçados eletrocardiográficos realizados pelos dispositivos foram analisados por um médico, sem recurso aos algoritmos automáticos. Nesta situação, mesmo os traçados inconclusivos puderam ser analisados e em 99% dos casos foi possível estabelecer um diagnóstico pelo médico que interpretou o traçado registado pelo dispositivo. Foi ainda realizado um questionário sobre qual o dispositivo preferido pelos participantes no estudo e que incluiu conforto, facilidade de utilização, entre outros. O Apple Watch 6 foi o preferido em 39% dos casos, com os restantes participantes divididos, de igual forma, entre os outros dispositivos. 

O BASEL Wearable Study revela que é possível utilizar smartwatches para detetar fibrilhação auricular. Quando são excluídos os traçados inconclusivos, que surgem em 20% das ocasiões, a acuidade diagnóstica é muito elevada. Adicionalmente, a revisão dos traçados eletrocardiográficos realizados pelos smartwatches, pelo médico responsável, permite, em 99% dos casos, confirmar ou excluir a presença de FA. 

Por isso, se o seu smartwatch indicar que tem fibrilhação auricular, aconselhe-se junto do seu médico, pois podem ser necessárias investigações adicionais. 

Referências:

1. Dagher L, et al. Wearables in cardiology: Here to stay. Heart Rhythm. 2020;17(5 Pt B):889-895.

2. Mannhart D, et al. Clinical Validation of 5 Direct-toConsumer Wearable Smart Devices to Detect Atrial Fibrillation: BASEL Wearable Study. JACC Clin Electrophysiol. 2023;9(2):232-242.

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