O que diz o aperto de mão sobre a saúde do seu coração?
Vanessa Santos - Fisiologista do exercício
Publicado no dia 25 de dezembro de 2023
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O aperto de mão, um gesto tão comum nas interações humanas, carrega consigo um importante significado para a saúde, que muitas vezes é subestimado.
Enquanto a sociedade frequentemente vê o aperto de mão como um símbolo de confiança, respeito ou até mesmo como um ritual em negociações e acordos, a ciência vê além. Para os especialistas em saúde, a força por detrás desse gesto não é apenas uma mera formalidade ou etiqueta social. Ela pode ser um reflexo da saúde interna de um indivíduo, um espelho que revela o estado do seu bem-estar físico e, possivelmente, a sua longevidade.
Neste contexto, o aperto de mão reflete a força de preensão manual, que é não apenas um indicador de força física, mas um barómetro da saúde geral e da esperança de vida de um indivíduo. Esta perspetiva, embora surpreendente para muitos, é apoiada por uma crescente base de evidências científicas que exploraremos de seguida.
A importância da força de preensão manual
A força de preensão manual, medida através de um dinamómetro de mão, é um teste simples, rápido e não invasivo, e cada vez mais utilizado como parâmetro de avaliação de saúde. Muitos estudos têm associado a força de preensão manual como um preditor de saúde positiva e a fraqueza como um preditor de resultados nefastos para a saúde.
Riscos associados a valores de baixa força de preensão:
• Diabetes tipo 2: A força de preensão reduzida pode indicar uma saúde metabólica comprometida, que está intimamente relacionada com o desenvolvimento de diabetes tipo 2.
• Doença cardíaca: A força muscular pode ser um indicador da saúde vascular e da função endotelial, ambas essenciais para a saúde cardiovascular.
• Cancro: A força de preensão pode refletir a saúde geral do corpo, incluindo a capacidade do sistema imunitário de combater células cancerígenas.
• Demência e doença de Alzheimer: A saúde física e a saúde cerebral estão interligadas. Uma força de preensão reduzida pode ser um indicador precoce de declínio cognitivo.
• Depressão: A saúde física e mental estão interligadas, e assim os níveis de força de preensão podem ser um indicador da saúde mental e emocional de um indivíduo.
• Incapacidade funcional: A força de preensão é um indicador da capacidade de um indivíduo realizar tarefas diárias, como abrir frascos ou carregar objetos pesados.
• Osteoporose: A força muscular pode ser um indicador da densidade óssea e da saúde esquelética geral.
• Morte prematura: A força de preensão manual tem sido consistentemente associada à mortalidade em diversos estudos.
Uma baixa força de preensão pode indicar uma saúde geral comprometida, refletindo potencialmente múltiplas condições subjacentes que aumentam o risco de morte. Leung et al. (2015) analisou dados de quase 140.000 adultos em 17 países e descobriu que a força de preensão foi um preditor mais forte de morte por qualquer causa. Por cada diminuição de 5 kg na força de preensão, houve um aumento de 17% no risco de morte por doença cardiovascular, um aumento de 7% no risco de enfarte agudo do miocárdio e um aumento de 9% no risco de acidente vascular cerebral.
Força de preensão, risco cardiovascular e longevidade
A força de preensão manual não é apenas um indicador da saúde muscular de um indivíduo, mas também tem implicações profundas na saúde cardiovascular e na longevidade. A relação entre a força de preensão e estas duas áreas de saúde tem sido o foco de várias pesquisas ao longo dos anos.
A saúde cardiovascular é intrinsecamente ligada à força muscular. Estudos têm demonstrado que uma força de preensão manual reduzida pode ser um indicador de saúde cardiovascular comprometida. Esta relação pode ser explicada pelo facto de que a força muscular reflete a saúde vascular e a função endotelial, ambas essenciais para a saúde cardiovascular.
Estudo de Gubelmann et al. (2017) publicado no European Journal of Preventive Cardiology, demonstra que a força de preensão estava inversamente associada à hipertensão arterial, um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares.
A relação entre a força de preensão e a longevidade é inegável. Estudos têm consistentemente mostrado que uma força de preensão mais forte está associada a uma maior expectativa de vida. Sayer et al. publicou no jornal Age and Ageing a relação entre a força de preensão e a longevidade em quase 9.000 homens e mulheres. Os resultados mostraram que uma força de preensão reduzida estava consistentemente associada a uma maior mortalidade, independentemente de fatores como idade, sexo e tamanho corporal.
A relação entre a força de preensão e a longevidade é inegável. Estudos têm consistentemente mostrado que uma força de preensão mais forte está associada a uma maior expectativa de vida. Sayer et al. publicou no jornal Age and Ageing a relação entre a força de preensão e a longevidade em quase 9.000 homens e mulheres. Os resultados mostraram que uma força de preensão reduzida estava consistentemente associada a uma maior mortalidade, independentemente de fatores como idade, sexo e tamanho corporal.
Força de preensão e o processo de envelhecimento
O envelhecimento é um processo multifacetado que afeta todos os sistemas do corpo. A força de preensão, como indicador da saúde muscular, pode oferecer insights valiosos sobre o ritmo e a qualidade do processo de envelhecimento. A relação entre a força de preensão e o envelhecimento tem sido o foco de várias pesquisas, e os resultados têm implicações significativas para a saúde e bem-estar dos idosos.
Os primeiros estudos que exploraram a relação entre a força de preensão e o envelhecimento usaram a força de preensão como um indicador do estado nutricional em idosos. A nutrição adequada é fundamental para manter a saúde e a vitalidade à medida que envelhecemos.
Também a relação entre a força de preensão e o envelhecimento a nível celular tem sido estudada, este é um processo que pode refletir a exposição de um indivíduo a vários eventos da vida e tem implicações para o envelhecimento. Gale et al. (2018) descobriu que a força de preensão estava inversamente associada ao envelhecimento biológico, medido através de marcadores de metilação do DNA.
À medida que envelhecemos, a capacidade de realizar tarefas diárias e manter a independência pode ser comprometida. A força de preensão pode ser um indicador precoce de declínio funcional.
Força de preensão, função muscular e estratégias de intervenção
A função muscular é um pilar essencial para a mobilidade, independência e qualidade de vida, especialmente à medida que envelhecemos. A força de preensão, ao refletir a saúde muscular, pode ser usada para identificar indivíduos em risco de declínio funcional e, consequentemente, guiar intervenções adequadas.
A diminuição da função muscular é o primeiro passo do processo de incapacidade. O teste de preensão manual ajuda a identificar indivíduos em risco de declínios no desempenho físico.
Devemos ter presentes as seguintes estratégias de intervenção:
• Definição de Fraqueza: É essencial considerar fatores como o sexo e a idade. Hoje em dia já existem valores de referência para o sexo e a idade.
• Intervenções: aconselhe-se com um fisiologista do exercício e melhore o seu treino de força muscular, privilegiando o treino de membros superiores.
Concluímos assim que através da avaliação da força de preensão manual podemos obter insights valiosos sobre a saúde cardiovascular, o processo de envelhecimento, a função muscular e até mesmo a longevidade. A ciência, ao longo dos anos, tem reforçado a importância deste simples teste, demonstrando que a força de preensão é muito mais do que um mero indicador de força muscular – é um barómetro da saúde geral.
A crescente base de evidências científicas aponta para a necessidade de integrar a avaliação da força de preensão nas práticas clínicas regulares, permitindo uma deteção precoce de potenciais riscos à saúde e a implementação de estratégias de intervenção adequadas. Seja através da identificação de riscos cardiovasculares, da avaliação do processo de envelhecimento ou da determinação da qualidade da função muscular, a força de preensão emerge como uma ferramenta essencial para a promoção da saúde e bem-estar.
Sublinhamos assim também a importância de olhar para além das convenções sociais e reconhecer o valor científico e clínico de um simples aperto de mão. Através de uma abordagem informada e proativa, podemos utilizar esta ferramenta para melhorar a qualidade de vida, promover a saúde e, potencialmente, prolongar a longevidade.
Referências:
- Leong, C., et al. Prognostic value of grip strength: findings from the Prospective Urban Rural Epidemiology (PURE) study. The Lancet. 2015; 386(9990), 266-273.
- Gubelmann, C., et al. Association between grip strength and cardiovascular risk markers. European Journal of Preventive Cardiology. 2017; 24(5), 514-521.
- Sayer, A. A., et al. Grip strength and the metabolic syndrome: findings from the Hertfordshire Cohort Study. Age and Ageing. 2007; 36(6), 665-671.
- Gale, C. R., et al. Grip strength, body composition, and mortality. Int J Epidemiol. 2007 Feb;36(1):228-35.