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Suplementos Naturais: Riscos e Benefícios para a Prevenção Cardiovascular

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José Ferreira - Cardiologista

Publicado no dia 17 de abril de 2024

Ashwagandha, chá verde e ginseng para prevenir e tratar a doença cardiovascular? A utilização de plantas e ervas, com fins medicinais, tem sido usada ao longo da história da humanidade até aos nossos dias.

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Cerca de 25% dos medicamentos comercializados são derivados de plantas previamente usadas na medicina tradicional. No entanto, estes medicamentos apesar de terem uma origem “natural”, foram testados e sujeitos a um rigoroso controlo de qualidade, antes de serem comercializados e o seu uso generalizado.

Para evitarem os medicamentos, popularmente designados de “químicos”, muitas pessoas, incluindo doentes, refugiam-se nos suplementos e medicamentos naturais. Estima-se que 1 em cada 5 pessoas, já tomaram algum tipo de suplemento natural com o intuito de melhorar a sua saúde.

Contrariamente aos medicamentos, a maioria destes produtos naturais pode ser comercializado sem qualquer estudo científico e sem dados de segurança, que suportem a sua utilização e consumo generalizado. A venda pouco regulada destes produtos, e a crença popular da sua natureza “natural” e inócua, permite que esta indústria prospere, estimando-se que o seu valor ascenda a mais de 215 mil milhões de euros.

Mas será que a evidência científica suporta a utilização deste tipo de produtos? Qual o seu mecanismo de ação? Será que existem riscos para a saúde? Veja de seguida as repostas a estas e outras perguntas, numa revisão da literatura existente.

Quais os suplementos e “medicamentos naturais” habitualmente usados e recomendados para a prevenção e tratamento da doença cardiovascular?

Ginseng (Panax ginseng)

•   Promovido como um suplemento para melhorar a saúde geral e potenciar o sistema imune. De entre os inúmeros benefícios, é apontada uma melhoria da pressão arterial e redução dos níveis de açúcar e de colesterol no sangue. No entanto, os ensaios clínicos não têm confirmado estes benefícios.

•   O Ginseng pode interferir com outros medicamentos e reduzir o seu efeito. Por exemplo, a utilização do Ginseng reduz os níveis de Varfarina e aumenta o risco de tromboses.

Extrato de Raíz de Astragalo (Astragalus membranaceus)

•   Promovido como um tónico, que melhora o sistema imune e combate as infeções. Tem também sido preconizado, como um suplemento capaz de reduzir os sintomas da doença cardiovascular. No entanto, não existem estudos clínicos que comprovem este suposto efeito benéfico.

•   Não existem dados de segurança suficientes que permitam excluir riscos, quando usados por pessoas com doença cardiovascular.

Óleo de Linhaça (Linum usitatissimum)

•   Utilizado como um laxante, é também indicado para reduzir a inflamação e combater várias doenças, incluindo cancro. Os seus possíveis benefícios incluem uma redução da pressão arterial e prevenção da aterosclerose.

•   O óleo de linhaça é rico em ómega-3 e estudos em animais demonstraram reduzir a aterosclerose; em humanos, a utilização do óleo de linhaça parece reduzir marginalmente a pressão arterial e os valores de colesterol, conforme comprovado por vários estudos clínicos.

•   O principal risco da utilização do óleo de linhaça são as alterações do trânsito intestinal e eventualmente diminuir a absorção de outros medicamentos necessários ao tratamento da doença cardiovascular.

Alho (Allium sativum)

•   Tem um efeito anti-inflamatório, antiagregante e antioxidante. Adicionalmente, o alho reduz a produção e absorção de colesterol.

•   Estudos clínicos demonstraram que a administração de suplementos de alho, reduziu os níveis de colesterol em 10%; não sabemos, no entanto, se essa redução de colesterol se associa a uma redução do risco de eventos cardíacos.

•   Para além da halitose, náuseas e queixas gástricas, o alho não parece ter efeitos prejudiciais significativos para o sistema cardiovascular. Porém, pode potenciar os efeitos de fármacos antiagregantes e anticoagulantes.

Ginko (Ginkgo biloba)

•   Maioritariamente promovido pelo seu potencial de melhoria da memória e preservação da função cognitiva, a sua ação antioxidante, anti-inflamatória e antiagregante pode contribuir para a prevenção e tratamento da doença cardiovascular. No entanto, os vários estudos clínicos têm sido inconclusivos.

•   Pode potenciar a aspirina e outros antiagregantes e anticoagulantes. Em doentes que tomam este tipo de medicação, o ginko aumenta o risco de hemorragias, incluindo cerebrais!

Semente de uva (Vitis vinifera)

•   Rica em antioxidantes, em particular resveratrol, a semente de uva, tem sido recomendada para a prevenção de eventos cardiovasculares.

•   Os dados de ensaios clínicos são limitados, mas apontam para efeitos positivos na redução da pressão arterial e dos níveis de colesterol. Desconhecem-se os seus efeitos secundários.

Chá Verde (Camellia sinensis)

•   O chá verde é rico em flavanóides, vitaminas e minerais. Tem sido recomendado para reduzir o colesterol e controlar a diabetes.

•   Alguns estudos demonstram que o consumo regular de pelo menos 3 copos por dia de chá verde, parece reduzir o risco de diabetes, a pressão arterial e os valores de colesterol. No entanto, estes estudos são de curta duração e com poucos participantes, pelo que as conclusões não são definitivas.

Aswagandha (Withania somnifera)

•   O ashwagandha, também conhecida como Ginseng Indiano, é uma erva medicinal que promove o bem-estar físico, mental e emocional. Para além do seu uso no tratamento da ansiedade, depressão e infertilidade, tem sido recomendada para o controlo da diabetes e dos valores de colesterol. No entanto, os estudos clínicos que suportam a sua utilização para controlar estes fatores de risco são escassos e de fraca qualidade.

•   Alguns estudos demonstram que o ashwagandha, tomado durante um curto período, pode melhorar o desempenho físico de atletas e não atletas, comprovado pelo aumento do VO2 máximo.

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Quais os riscos de usar “medicamentos naturais” no tratamento da doença cardiovascular?

•   Ausência de eficácia demonstrada, com a maioria dos produtos comercializados. Na realidade, pode ser despendido dinheiro, sem qualquer benefício real!

•   Risco de efeitos secundários! Sim, os produtos naturais, também têm efeitos secundários, mas contrariamente aos medicamentos, não são obrigados a ter uma bula com a descrição dos mesmos!

•   Risco de contaminação. O processo de produção de muitos destes produtos não garante que não existam contaminantes, que podem ser tóxicos para o nosso organismo, mesmo em pequenas quantidades.

•   Risco para grávidas e crianças. A maioria destes produtos não foram testados nesta população, pelo que o risco de efeitos secundários poderá colocar em risco o desenvolvimento dos bebés e crianças!

•   Falta de antídotos. Se existir uma dose excessiva ou acumulação no organismo, não dispomos de antídotos que revertam o seu efeito!

•   Incerteza sobre a dosagem. A falta de testes e estudos prévios, torna impossível saber qual a dose correta para determinado indivíduo, tendo em conta por exemplo o peso, a idade, entre outras características!

Em conclusão, deve ou não usar “medicamentos naturais”?

Apesar do papel relevante que a medicina tradicional tem tido na história, vivemos hoje numa sociedade que exige tratamentos com resultados, sem colocar em causa a segurança e sem riscos acrescidos de complicações.

Por esse motivo, os suplementos e produtos naturais precisam de demonstrar a sua eficácia e ausência de efeitos secundários. Caso contrário, podem apenas ser placebos, isto é, medicamentos sem qualquer impacto na prevenção e tratamento das doenças, que em algumas situações poderão até ter efeitos deletérios.

Por esse motivo, em vez de suplementos naturais, procure fazer atividade física regular e manter uma alimentação equilibrada. Esses sim, são os melhores suplementos que pode consumir!

E na dúvida, aconselhe-se com o seu médico!

Referências:

  1. Liperoti R, Vetrano DL, Bernabei R, Onder G. Herbal Medications in Cardiovascular Medicine. J Am Coll Cardiol. 2017 Mar 7;69(9):1188-1199. doi: 10.1016/j.jacc.2016.11.078. Erratum in: J Am Coll Cardiol. 2017 Apr 25;69(16):2103. PMID: 28254182

  2. Durg S, Bavage S, Shivaram SB. Withania somnifera (Indian ginseng) in diabetes mellitus: A systematic review and meta-analysis of scientific evidence from experimental research to clinical application. Phytother Res. 2020 May;34(5):1041-1059. doi: 10.1002/ptr.6589. Epub 2020 Jan 23. PMID: 31975514

  3. Pérez-Gómez J, Villafaina S, Adsuar JC, Merellano-Navarro E, Collado-Mateo D. Effects of Ashwagandha (Withania somnifera) on VO2max: A Systematic Review and Meta-Analysis. Nutrients. 2020 Apr 17;12(4):1119. doi: 10.3390/nu12041119. PMID: 32316411; PMCID: PMC7230697

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