Pericardite

José Ferreira - Cardiologista
Publicado no dia 19 de junho de 2024
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O pericárdio é uma membrana, em forma de saco, que envolve o coração, e que tem uma função protetora do mesmo. O pericárdio está preenchido por uma pequena quantidade de líquido, que garante o batimento contínuo, sem fricção e síncrono do coração.

Quando esta membrana é alvo de um processo inflamatório, desenvolve-se um processo designado de pericardite. A pericardite pode causar sintomas que se confundem com o enfarte agudo do miocárdio, mas na maioria dos casos é uma doença relativamente benigna e autolimitada.
O que provoca a pericardite?
A causa mais frequente de pericardite são as infeções virais. Frequentemente, a pericardite desenvolve-se uns dias após uma infeção respiratória ou gastrointestinal e resulta de uma reação imunitária, desencadeada pelo nosso organismo para combater o vírus, que leva à inflamação do pericárdio.
Para além dos vírus, a pericardite pode também ser causada por infeções bacterianas. Têm igualmente sido descritos casos de pericardite após administração de vacinas, embora esta etiologia seja muito rara. Outras causas menos frequentes são as doenças autoimunes, como o lúpus ou artrite reumatóide, onde a inflamação sistémica desencadeada, afeta a membrana pericárdica. Existem outras causas ainda mais raras, como traumatismos do tórax, neoplasias, doença renal e alguns medicamentos.
Quais os sintomas da pericardite e como se faz o diagnóstico?
O sintoma mais frequente é a dor no peito, que pode aparecer de forma súbita e confundir-se com a dor do enfarte agudo do miocárdio. A dor tende a agravar na posição deitada, com a respiração profunda, e alivia na posição sentada e inclinada para a frente.
A pericardite pode acompanhar-se de febre, cansaço geral, palpitações, falta de ar e de outros sintomas sugestivos de infeções virais, quer do foro respiratório, quer gastrointestinal.
Se a dor for intensa e persistente, é obrigatório realizar eletrocardiograma e determinar marcadores de lesão cardíaca no sangue para despistar enfarte agudo do miocárdio e fazer o diagnóstico.
A radiografia do tórax e o ecocardiograma podem também ajudar a despistar complicações e ajudam a confirmar o diagnóstico.
Quais as complicações da pericardite?
A pericardite provocada por vírus tende a ter uma apresentação aguda, é autolimitada e apresenta baixo risco de complicações. A pericardite provocada por outras causas assume habitualmente formas mais graves, mais prolongadas e com maior risco de complicações.

A principal complicação da pericardite é o aparecimento de derrame pericárdio, isto é, excesso de líquido acumulado e que pode dificultar o funcionamento do coração. Em casos mais graves, o derrame pericárdico pode levar a uma falência do coração, quando surge tamponamento cardíaco. Para além disso, a inflamação crónica da membrana, pode levar a uma pericardite crónica, que em algumas situações impede o normal funcionamento do coração e leva ao aparecimento de insuficiência cardíaca, num processo designado de pericardite constritiva.
Qual o tratamento da pericardite?
Como habitual, o tratamento depende da causa. De uma forma geral, a pericardite aguda provocada por vírus é uma doença autolimitada. Para além do repouso na fase aguda, são utilizados medicamentos anti-inflamatórios para alívio dos sintomas. O mais habitual é o recurso ao ibuprofeno (mas podem ser usados outros anti-inflamatórios), que é frequentemente combinado com uma dose baixa de colchicina durante alguns dias.
Quando a pericardite assume formas recorrentes ou se torna crónica, o tratamento poderá ser mais prolongado durante semanas e deve ser orientado à causa da doença.
Após a pericardite, posso retomar a rotina habitual?
Como em todas as doenças, a recuperação depende da gravidade e das complicações. Na pericardite aguda viral não complicada, após alguns dias de anti-inflamatórios, os sintomas tendem a desaparecer. No entanto, podem persistir alterações no eletrocardiograma durante algumas semanas, sinal de que a inflamação do pericárdio pode perdurar.
Se os sintomas desaparecerem, normalmente é possível retomar a rotina habitual após uma ou duas semanas. A prática de exercício físico, de intensidade moderada a intensa, é que deve ser adiada um pouco mais, pelo menos 4 semanas, mas o ideal será esclarecer com o seu médico, pois em formas mais graves poderá ser prudente esperar três meses.
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