Exercício físico após um evento cardiovascular: Que exames pedir e quem não pode iniciar?

Hélder Dores - Cardiologista
Publicado no dia 18 de janeiro de 2024
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A prática regular de exercício físico é essencial para melhorar a saúde cardiovascular. Mesmo após um evento agudo, nomeadamente um enfarte agudo do miocárdio, é possível praticar exercício físico, podendo ser iniciado mesmo numa fase precoce quando inserido num programa de reabilitação cardíaca, com prescrição individualizada e monitorizado por profissionais diferenciados.

A investigação e exclusão de características associadas a risco acrescido de complicações durante a prática de exercício físico é fundamental, tais como estenoses coronárias obstrutivas, disfunção sistólica, isquemia miocárdica, arritmias, reinício precoce após revascularização ou sintomas. Neste contexto, estes doentes devem realizar uma avaliação prévia, após a qual será prescrito o exercício físico e estabelecidas restrições, se justificável. Esta avaliação deverá ter em consideração o tipo e a gravidade da patologia, os procedimentos e os exames realizados, os hábitos prévios de atividade física e as características do exercício pretendido. Naqueles que pretendem exercício de elevada intensidade, a avaliação deverá ser mais exaustiva.
Entre os exames mais úteis encontram-se a eletrocardiograma, o ecocardiograma transtorácico e a prova de esforço. Nos doentes com doença coronária conhecida, apesar das limitações, a prova de esforço continua a ser um excelente exame, devendo ser máxima e reproduzir o nível de esforço previsto para a prática desportiva. Além da pesquisa de isquemia residual, a prova de esforço permite avaliar sintomas, a evolução da pressão arterial e arritmias induzidas pelo exercício. Na presença destas alterações deverão ser realizados exames mais específicos. Se for detetada isquemia residual, poderá ser necessário repetir a coronariografia e avaliar o risco das lesões, que se for elevado justificará revascularização miocárdica. Se esta não for possível e caso o doente permaneça assintomático, com função sistólica preservada e sem arritmias induzidas pelo exercício, pode ser praticado desporto, salvo algumas exceções, mas na presença destas características apenas se recomenda desporto competitivo na classe skill ou recreativo de intensidade ligeira a moderada.
As recomendações da Sociedade Europeia de Cardiologia referem que quando o risco de eventos é baixo pode ser praticado desporto competitivo ou recreativo, com exceções como atletas mais velhos ou desportos de elevada exigência cardiovascular. Se o risco for elevado, incluindo com isquemia persistente, poderá ser praticado exercício recreativo abaixo do limiar de isquemia, mas o desporto competitivo não está recomendado, com exceção da classe skill.
Em suma, exercise is medicine! Quase toda a gente pode praticar exercício, mesmo após eventos cardiovasculares, sendo crucial balancear os riscos da prática inapropriada com os seus múltiplos benefícios, devendo ser incentivado e ajustado ao perfil de risco individual.
Importa salientar que após um evento como o enfarte agudo do miocárdio há características associadas a risco acrescido que justificam uma avaliação mais detalhada.
Referências:
- Rosengren A, et al. Association of psychosocial risk factors with risk of acute myocardial infarction in 11119 cases and 13648 controls from 52 countries (the INTERHEART study): case-control study. The Lancet. 2015; 386(9990), 266-273. Lancet. 2004;364(9438):953-62.
- American Heart Association. Stress and heart health. 2021.
Sakurada K, et al. Associations of Frequency of Laughter With Risk of All-Cause Mortality and Cardiovascular Disease Incidence in a General Population: Findings From the Yamagata Study. J Epidemiol. 2020;30(4):188-193.