DEIXAR DE FUMAR OU REDUZIR O
NÚMERO DE CIGARROS?
Artigo de José Ferreira Santos - Cardiologista
15 nov 2021
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Todos sabemos: fumar faz mal à saúde e em particular ao coração! No entanto, muitos dos meus doentes continuam a fumar, apesar de terem sido diagnosticados com uma doença cardíaca! Quando aconselhados a deixar de fumar, muitos dizem-me que já reduziram o número de cigarros que consomem por dia! Mas será isso suficiente?
Antes de responder à pergunta, importa relembrar: deixar de fumar é a medida mais eficaz para prevenir o enfarte agudo do miocárdio e a morte por doenças cardiovasculares. Deixar de fumar entre os 45-65 anos irá permitir viver em média mais 3-5 anos, livres de eventos cardíacos. Se entrarmos em conta com o risco de cancro e de doença pulmonar, os ganhos em anos livres de doença serão maximizados e seguramente superiores. Por isso, não tenha dúvidas, se fuma e o seu objetivo é viver mais anos e sem doenças, a forma mais eficaz de atingir o seu objetivo é mesmo deixar de fumar!
Agora que decidiu que deve deixar de fumar…
Será que reduzir o número de cigarros é suficiente para diminuir o risco de doenças cardíacas e, em particular, de enfarte agudo do miocárdio e de acidente vascular cerebral (AVC)?
Esta foi a pergunta que um grupo de investigadores pretendeu esclarecer. Para o efeito foram estudados 897.975 indivíduos fumadores, que não tinham evidência de doença cardiovascular e que foram seguidos durante uma média de 6,2 anos. A população foi dividida nos seguintes grupos, de acordo com o consumo de tabaco, avaliada dois anos após a inclusão no estudo:
Foi avaliado o risco de desenvolver enfarte agudo do miocárdio ou de AVC em cada um dos grupos. Quando comparados com os indivíduos que continuaram a fumar, os resultados foram os seguintes:
Os indivíduos que suspenderam em absoluto o consumo do tabaco tiveram um risco 23% inferior de AVC e 26% inferior de enfarte agudo do miocárdio, durante o período em análise.
Os restantes grupos de indivíduos, onde se incluíram os que aumentaram o consumo de tabaco e os que reduziram o consumo de forma mais ou menos acentuada, tiveram o mesmo risco de AVC e de enfarte agudo do miocárdio.
Os autores concluíram que apenas a cessação tabágica se associa a uma redução do risco de eventos cardíacos. Adicionalmente, este estudo demonstra que reduzir o número de cigarros, mas continuar a fumar, não tem qualquer benefício na prevenção de doença cardiovascular.
Em conclusão, se tem um problema cardíaco ou quer prevenir o desenvolvimento de doença cardiovascular, recorde que a única solução é mesmo deixar de fumar todo e qualquer tabaco!
Referências:
1. Visseren F, et al. 2021 ESC Guidelines on cardiovascular disease prevention in clinical practice. Eur Heart J. 2021;42(34):3227-3337;
2. Jeong SM, et al. Smoking cessation, but not reduction, reduces cardiovascular disease incidence. Eur Heart J. 2021;42(40):4141-4153.
Artigo de José Ferreira Santos - Cardiologista
- 15 nov 2021
Como médico, recomendo frequentemente aos meus doentes que mudem o seu estilo de vida para minimizar o risco ou controlar a sua doença cardíaca. Acredito que ter conhecimento significa ter o poder para fazermos melhores escolhas. As escolhas certas para termos uma vida longa, com mais energia e feliz. É essa a minha motivação pessoal!